Hoje é Thanksgiving Day. Sabe porque eu prezo o dia de Ação de Graças? Porque eu sempre vi nos filmes americanos as pessoas todas correndo para viajar nesse dia, que geralmente é cinzento, frio e chuvoso, como aqui. Mas todos parecem tão felizes e ansiosos para estarem com suas famílias meio nerds, barulhentas, comilonas; mas tudo bem, é a urgência do encontro, uma expectativa pela festa, uma premência de parar o tempo, na escola, no trabalho, para, enfim, sentar ao lado daquelas determinadas pessoas, todas elas especiais umas para as outras, comer, beber, cantar, e agradecer a Deus a boa colheita do ano, qualquer coisa que tenha sido ela.
São todos componentes muito fortes, que fazem uma moldura da vida que se tem aqui no nosso ocidente tão cheio de enganos.Uma coisa parecida é o afã dos judeus para comemorar o Sabath, nas 6ªs feiras ao por do sol: hora de jejuar, se unirem à volta do patriarca para as orações, as mulheres de véus à cabeça como suas patrícias muçulmanas.
No Islã que não nada em ódio nem está sangrando, os homens tocam suas flautas de bambú e dançam o Samá, girando sobre o próprio corpo até se doparem de zonzeira, e choram a saudade de um Alá muito estranho e distante. Ainda acho que o caminhar dos homens sobre a terra é uma "procissão de sombras sob um céu negro", como disse o poeta. Mas isso não invalida o ritual. Ainda mais o imprescindível ritual da fraternidade e do agradecimento. "Gloria a Deus nas alturas e paz na Terra" a todos nós.
Eu gosto de rituais e sinto falta deles. Eles validam nosso trabalho e nossa crença, nos elevam à condição de protagonistas do próprio caminhar e trazem paz à consciência. Quase como agradar a Deus e, por isso, merecer o paraíso. Meus rituais são tímidos e disfarçados porque ninguém partilha e isso tem que ser comungado. Quando mamãe agonizava, o padre não chegava, eu mesma fui a autora de sua "benção" do adeus; rezei, "encomendei" sua alma a Deus, perdoei-lhe os pecados, pedi que fosse em paz, sua missão estava cumprida. Ministrei-lhe o sacramento do perdão, da passagem, do acolhimento em outra vida, sei lá. Foi meu grande ritual.
Estou muito triste. Sinto falta da vida que tinhamos, das pessoas que eu não queria perder também, como o Haroldo, a Adriana. Gosto da casinha demais, mas ela ficou triste.
Hoje é Thanksgiving, eu ia fazer um jantar aqui mas ninguem poderá vir; vou adiar para amanhã. Pensarei muito em vocês. Eu amo o Mário. Ainda bem que ele é nosso.Ma, faça qualquer coisa no Natal e Ano Novo, só para vocês. Rituais sào fundamentais, como o amor. Só a saudade é desnecessária, mas existe, persiste e insiste.
Ó céus, ó vida...